Entre falhas e acertos, “A 13ª Emenda” acena para América mais humanizada
Documentário, já em cartaz na Netflix, concorre ao Oscar 2017 na categoria e se destaca pelo ponto de vista forte e substancial que a cineasta Ava DuVernay emprega na narrativa

A cineasta Ava DuVernay e o político republicano Newt Gingrich pouco antes de uma das entrevistas do documentário
“Entender o que é ser um negro nos Estados Unidos é algo que branco algum jamais poderá fazer”, diz o ex-congressista e ex-pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicano Newt Gingrich a certo ponto de “A 13ª Emenda”, fulminante documentário da cineasta Ava DuVernay (“Selma: Uma Luta pela Igualdade”), indicado ao Oscar 2017 de melhor documentário. Este é um momento chave do filme, que parece ungido da missão de convencer o espectador de que a constatação de Gingrich procede.
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O ponto partida de “A 13ª Emenda” é original, relevante e um convite à reflexão. DuVernay se vira para um problema crônico dos Estados Unidos desde a emancipação dos direitos civis na década de 60, quando a população negra após muito sofrimento conseguiu assegurar acesso a alguns direitos básicos: a elevação constante da população carcerária. Desnecessário dizer que neste boom, que ainda hoje está em alta, há preponderância de minorias como negros e latinos.
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O grande mérito do filme não é propor uma reflexão, mas se materializar como um alerta. DuVernay tem uma verdade a defender. A de que a elite branca precisou reagir a 13ª emenda na constituição americana que pôs fim definitivo à escravidão. Era preciso encontrar uma nova maneira de sustentar a economia sulista, toda ela dependente da mão de obra escrava. Esse raciocínio foi evoluindo – e a maneira como o doc trabalha o impacto do filme “O Nascimento de uma Nação” no imaginário cultural da época é um achado – até que o preconceito racial, mais velado à maneira que mais se enraizava, virou uma commodity política que tanto democratas como republicanos exploraram ao longo dos anos.
DuVernay obviamente dá voz a especialistas simpáticos à visão de mundo e do problema que o documentário defende. Mais do que especialistas, grande parte dos entrevistados são ativistas. Não há nenhum problema nisso. No entanto, a fragilidade do filme reside no pouco espaço dado às divergências. Quando um ponto de vista adverso surge, há um tom de ridicularização intermitente. DuVernay peca, ainda, por alterar a sistemática de seu documentário quando Barack Obama assume a Casa Branca. Ela muda os parâmetros até então empregados e prefere atacar a indústria do lobby a submeter Obama ao mesmo escrutínio imposto a Clinton, Bush, Reagan, Nixon e os demais.
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Esse subterfúgio enfraquece o discurso que o filme defende, mas não mina seus méritos. “A 13ª Emenda” é aquele tipo de filme necessário. Que precisa passar nas escolas e que deve estimular todo um debate sobre ele. Entre seus acertos e erros como cinema, salva-se a nobre intenção de contribuir para uma América mais humana.
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59 “La La Land” é o filme do Oscar porque retrata a geração Y de um jeito diferente | SINOP URGENTE 24/02/2017 15:32
[…] importante sobre o negro nos EUA. “Temos três destaques aqui?, argumenta o docente. “? A 13° Emenda ?, ?Eu não Sou seu Negro? e ?O.J.: Made in America?. Todos têm abordagens interessantes, mas […]
58 “La La Land” é o filme do Oscar porque retrata a geração Y de um jeito diferente | SORRISO URGENTE 24/02/2017 15:31
[…] importante sobre o negro nos EUA. “Temos três destaques aqui?, argumenta o docente. “? A 13° Emenda ?, ?Eu não Sou seu Negro? e ?O.J.: Made in America?. Todos têm abordagens interessantes, mas […]
57 “La La Land” é o filme do Oscar porque retrata a geração Y de um jeito diferente | NOTÍCIAS VG 24/02/2017 15:30
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53 Eleição de Trump não deve influenciar escolhas da Academia no Oscar 2017 | SINOP URGENTE 22/02/2017 10:32
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52 Eleição de Trump não deve influenciar escolhas da Academia no Oscar 2017 | Folha Acadêmica 22/02/2017 10:30
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51 Kamila Azevedo 21/02/2017 15:53
Ainda não assisti a “13ª Emenda”, mas me parece que este longa é o grande favorito ao Oscar 2017 de Melhor Documentário! Apesar de eu ainda achar que ‘O.J. Made in America’ vencerá.