As chances de “Corra!” na temporada de prêmios e a polêmica no Globo de Ouro
Lançado no começo do ano, em fevereiro nos EUA e em maio no Brasil, o thriller “Corra!” promete chegar com força na temporada de premiações e como um bom termômetro disso já se encontra no epicentro de uma das polêmicas da temporada. Além de como o tema assédio sexual pautará a Oscar season, a classificação do filme de Jordan Peele para concorrer entre as comédias no Globo de Ouro gerou polêmica e grande repercussão negativa.
Para começo de conversa, “Corra!” não é uma comédia, mas é uma sátira social aguda que trabalha de maneira inteligente com o humor. Peele, que é comediante, protestou. “O que o filme trata não é engraçado”. O filme mostra um fim de semana de um casal inter-racial na casa dos pais da namorada (branca) e como o racismo pode ser submerso e subversivo. A primeira vez que a produção chamou a atenção foi no festival de Sundance em janeiro e desde então foi uma saraivada de elogios.
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A Universal Pictures, que comprou os direitos da fita e a distribuiu globalmente, inscreveu o filme para concorrer entre as comédias. Simplesmente porque as chances de nomeação – e vitória – são maiores nesse eixo, já que o Globo de Ouro divide as principais categorias entre dramas e comédias. “Eu acho que foi apenas inscrito”, comentou Peele tentando minimizar o papel do estúdio que apoiou seu filme na “lambança”. De fato, a palavra final é da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês), mas a organização é conhecida por seu alto grau de flexibilidade, ou por abrir as pernas no português mais chulo, em nome das boas relações com os poderosos de Hollywood.
A submissão de “Corra!” às comédias não é nem mesmo a maior bobagem que a HFPA já fez nesse sentido. Alguém lembra de “O Turista”? Pois é… A inclusão de “Corra!” entre as comédias talvez incomode mais porque o filme discute com incrível sagacidade um tema importante e sempre incendiário que é o racismo, mas o raciocínio mercadológico da Universal não está errado. A indicação ao Globo de Ouro, ainda que em uma categoria contestável, pode vitaminar as chances do filme que precisa estar no radar dos votantes do Oscar – algo que mais do que qualquer outra premiação, apenas a HFPA pode fazer.
Chances reais
Apesar de “Corra!” não ser um grande filme, sua inteligência e originalidade o precedem. Isso, aliado ao fator de não ser essencialmente um “filme de Oscar”, ter sido um hit nas bilheterias (mais de US$ 250 milhões arrecadados mundialmente) e o debate importante que encampa devem lhe colocar na rota de uma indicação a melhor filme. Na verdade, apenas o roteiro merecia lembrança. No Spirit Awards, bom termômetro para o Oscar, figurou em mais categorias do que o esperado. Além de filme e roteiro, foi lembrado em montagem, direção e ator. A aparente patetada no Globo de ouro pode ser a chave para consolidar um dos contenders mais inusitados dos últimos anos no Oscar.