“O amor é um crime perfeito” alia inteligência e sensualidade a serviço da história
O cinema francês é reconhecido tanto pela inteligência como pela sensualidade e “O amor é um crime perfeito”, novo filme de Jean-Marie Larrieu e Arnaud Larrieu potencializa esses elementos com sofisticação, audácia e incrível esmero.
Eles já haviam obtido resultado semelhante em “Pintar ou fazer amor” (2004), comédia dramática que opunha desejo e moralismo sob uma perspectiva sedutora e instigante. Em “O amor é um crime perfeito”, adaptado do romance “Incendies” de Phillipe Djian, a proposta é mais ambiciosa. Combinar o ritmo de thriller policial ao contexto de um drama familiar. Tudo entremeado por uma pulsão sexual inebriante.
Mathieu Amalric faz um professor de literatura que costuma levar suas alunas para a cama. Quando uma dessas alunas some ele vai sendo enredado aos poucos em uma teia de conspirações à medida que visto como suspeito, ainda que discretamente, passa a se envolver com a madrasta da menina desaparecida. Não obstante, ele ainda tem um relacionamento complexo, e marcado por forte tensão sexual, com sua irmã, que ocupa um cargo de superioridade na universidade em que ele dá aula.
Com cadência, os irmãos Larrieu vão revelando uma trama absolutamente distinta daquela que intuímos a princípio. Se essa opção revela apurado exercício de estilo, exibe também uma aprofundada capacidade de articulação estética e narrativa. A sensualidade que impregna a fita jamais desvia a atenção do espectador da trama central. Pelo contrário, reforça-a maliciosamente. Outro aspecto interessante da direção dos Larrieu é que a verdade que emerge no final do filme, embora já pudesse ser pressentida por um ou outro observador mais perspicaz, nunca é esmiuçada em seus detalhes sórdidos e o público precisa preencher as lacunas com certa imaginação. Esse delicioso exercício de coautoria redefine “O amor é um crime perfeito” como um filme de muito mais capilaridade do que sua narrativa, falsamente convencional, sugere.
Neste sentido, a atuação de Mathieu Amalric ganha importância. Seu personagem vai sendo revestido de complexidade à medida que “O amor é um crime perfeito” vai se revelando um filme distinto do que tínhamos em mente. Essa exacerbação da linguagem cinematográfica finalmente se cristaliza com a grande sacada da obra: amar é o pecado definitivo dos vaidosos.